segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Palavras da doutora.

"O que você teve foi grave e você não é fiteira. Não ouça ninguém, porque ninguém sabe o que você está sentido", disse a doutora um dia em que a família estava praticamente toda no quarto do hospital, e acho que ninguém ouviu, porque os conselhos de como devo conduzir a minha vida continuaram.
Mas eu ouvi e muito bem, e sigo à risca o que ela disse por que é uma verdade incontestável.
Mas as pessoas por algum mecanismo de defesa não querem ouvir. 
Ninguém está preparado para um diagnóstico duro como a embolia. Nem para mim caiu a ficha ainda, portanto ainda está difícil de aprender a conviver com.
Não me sinto doente. Parece que é assim, portadores de doenças graves passam por várias etapas e uma delas é a negação.
Embolia pulmonar bilateral. 50% de cada pulmão mortos atualmente, podendo regredir (desentupir) várias artérias, mas algumas nunca mais serão recuperadas.
Por quê? Não sei, não existe uma explicação.
Realmente não sou uma pessoa controladora, que tem que ter o controle da vida, de tudo e de todos, sempre fui do tipo deixar a vida me levar, mas com responsabilidade. Então não está sendo tão complicado lidar com as doenças. 
A doença te tira da zona de conforto, você não sabe mais nem o que vai acontecer no dia seguinte, planejamentos devem ser desfeitos por intercorrências próprias da doença e efeitos colaterais de medicações.

Mas enfim, finalmente em casa, na minha caminha, sem conseguir pensar na nova vida. Viver fora da zona de conforto é isso mesmo. Mas fazer o quê? Talvez seja este o aprendizado, além de cultivar a paciência, saber esperar, ver o lado bom da vida. 


Fruta fresca.

Queria ser saboreada
Lentamente
Seus sucos a escorrerem
Entre lábios e dentes

Tinha cheiro e sabor de fruta fresca. 










A poesia morreu provisoriamente, não sei se volta. Cair na real sem anestesia é assim mesmo, creio eu. Então busquei uma leve para vocês, tarefa difícil, porque eu era muito intensa. Espero que gostem. 

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Efeito rebanho.

Certamente você já fez passeios de enfrentar filas para assistir a espetáculos, museus onde guias indiferentes te conduzem pelos cordões de isolamento porque alguém espera atrás de você, sem contar nossas estações de metrô e o empurra empurra onde sequer tem alguém treinado para conter a multidão por ser tarefa impossível mesmo. Sim, somos rebanhos, bem doutrinados, massa fácil de modelar, seres amorfos que sofrem sem emitir som.
O mesmo acontece na saúde. Hoje fiz um exame de endoscopia, e por ter gente demais esperando, a anestesia não foi suficiente e o médico realizou o procedimento no seco, como se diz, e ria e me imitava nos protestos guturais. Claro que imaginei o cano entrando no... dele e mentalmente dizia, ri agora, seu FDP, ok, foi uma vingança feia, mas era o que me restava...                           
Tive o privilégio de usufruir o rescaldo de um atendimento mais humano, mas hoje definitivamente faz parte de um passado e é irreversível, cada vez mais gente no mundo, fazer o que?
Ainda tenho que agradecer ter um plano de saúde, poderia ser pior. O que estou me referindo é a desumanização do atendimento, não a uma dorzinha suportável.
Futuramente teremos chips de identificação, ah, aí te prepara, porque nem pelo nome você será tratado, talvez um número, ou nem isto, o simples escaneamento do chip ou de sua pupila será suficiente. Ah, o futuro, apesar de tudo sou futurista, espero viver tudo isto.
Explicando, como sou espírita poderei ter o privilégio de viver em outra encarnação...

Enfim, era o último exame e amanhã terei alta, a casa com seus cheiros e sons me espera. Principalmente o Frank cantando na pitangueira na frente da janela da sala. Já estou com saudades dele, o mascote de todos os vizinhos, um querido!

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Caindo na real. Uma nova forma de viver.

Tudo bem na tua vida? Aqui no hospital a rotina continua. O ponto alto e excitante do dia é a visita do médico rsrs, não porque ele é bonito, vocês entendem, mas é o mensageiro, o portador de boas ou más notícias. A boa de hoje é que estou ótima e a má é que continuo sem previsão de alta.
Agora, você não vai adivinhar o motivo de minha melhora súbita, foi o blog.
Fiz o blog ontem e desde então estou sem oxigênio e mais fortalecida. A minha decisão de drenar as energias represadas aqui foi a melhor coisa que poderia ter feito.
Pena que com relação às doenças os médicos ainda não têm um diagnóstico definitivo, também, quem mandou arrumar um monte de doenças raras ao mesmo tempo, sua gulosa?
Acho que agora só o Dr. House na causa, rsrsrs.
Ah, vejo vários programas de culinária no canal GNT, coisas que nunca vou fazer, mas por algum motivo oculto talvez de masoquismo, fico olhando com água na boca.
É que o quarto tem televisão, é privativo por conta do meu convênio, um luxo em termos de saúde. Mas aqui no hospital tem SUS também, o que muda são as acomodações, porque a equipe médica é ótima.
Quando estava na emergência chegou uma enfermeira do SUS para pedir material e falou que lá estavam chegando de ônibus, coisa que a gente já sabe. Porto Alegre mal tem acomodações para seus habitantes e ainda vêm os do interior, a chamada ambulâncioterapia. Sem querer correr com o pessoal do interior que também é vitima, vamos deixar bem claro, mas se fizessem bons hospitais em cidades de localização geográfica centralizadora já melhorava.
Mas enfim, quem queria mudar o mundo era a antiga Jeanne, esta já caiu na real e a queda é brutal. Depois de perder o orgulho, a vaidade, a prepotência, as falsas ilusões, não sobra nada.

Não, sobra você, a essência, o que realmente importa. E é com isto que estou aprendendo a conviver. Recomeçar, reviver, renascer. Acho que o processo será paralelo ao blog, mas ainda tenho só perguntas. Vou tentar tirar umas fotos da paisagem aqui do hospital da PUC pra vocês. Quem é de Porto Alegre sabe que na frente do hospital tem a Universidade, mas como gosto de ilustrar as postagens, hoje vou mandar umas flores para vocês. Até.